sábado, 10 de março de 2007

PARQUE DA INDEPENDÊNCIA - 3 e 4 de Fevereiro


ESTREIA

Depois de 7 meses apresentamos ao mundo nossa menina dos olhos...
Céu azul, nuvens e um público diversificado que respondia com furor aos acontecimentos antes testados só em ensaio.

(Fabio Hirata)



Nil França

quinta-feira, 8 de março de 2007

Fotos











Amor que é de Mentira ou Mentira que é de Amor?


A partir da questão abaixo apresentada, encontramos a rua como o lugar mais democrático para que o trabalho se efetivasse. Contudo, logo de início, percebemos que, a busca por um teatro sem fronteiras etárias não se caracteriza apenas na transposição do fazer teatral para além do "espaço convencional", ou seja, apresentando-o em lugares de acesso a diferentes faixas etárias. Tal busca demanda, principalmente, um cuidado e uma sensibilidade muito grande em sua produção. Um processo que entendemos como a busca por uma estética universal, que se preocupa com temas e concepções cênicas desprovidas de referências rígidas de espaço e tempo, que leva em consideração o suscitar de perguntas e reflexões pertinentes a diversas faixas etárias. Para tanto, escolhemos o solo arenoso do discurso amoroso para dar os primeiros passos desse longo percurso, que teve como ponto de partida o conto O Casamento da Lua, de Vinícius de Morais.
Três divertidos e sábios velhinhos gastam seus dias em torno da investigação das oscilações “sentimentais” da Lua. Ao longo dos anos percebem que ela se torna cada vez mais pálida. Até descobrirem o real motivo: sua profunda paixão pelo Mundo. Porém este ignora o amor da pretendente. Identificado o impasse, os velhos planejam a inseminação artificial do triste corpo celeste e a Lua torna-se cheia: está grávida. Ao cabo dessa gestação florescerão emoções, fertilidade e frutos, ou seja, o Universo como um todo será tocado. No entanto, após essa explosão de vida, tudo retorna à normalidade, inclusive a carência amorosa da Lua, até que um dia voltem a notá-la.
As reflexões surgidas a partir da procura por dar forma cênica ao conto de Vinicius de Morais originaram um segundo plano de narrativa. Por meio da explicitação da convenção teatral, esses divertidos velhinhos resolvem brincar de ser outros personagens: há o menino que tem como sonho tornar-se um aparelho de televisão para conseguir maior atenção de sua mãe; a garota hipocondríaca e a mulher que encontra no chocolate a superação da carência amorosa que a angustia. Essas personagens revelam a representação das precárias relações afetivas que norteiam as vidas de hoje, relações dotadas de extrema solidão e fragilidade, que procuram uma aparente superação nos artifícios bolados pela “genial” mente humana. Contudo, medidas artificiais e efêmeras. A materialização cênica das intuições e percepções dos artistas criadores do processo, efetivou-se por meio de um constante brincar. A partir de estímulos materiais e sensíveis propostos pela direção os atores tornaram-se interpretes e criadores dessa realidade, contribuindo para que a escrita da peça fosse elaborada paralelamente à criação do espetáculo.
Pensamos Amor que é de Mentira ou Mentira que é de Amor? em conjunto, rebuscando em cada integrante do processo sua essência sensível, sem nos preocuparmos com faixas etárias, grupos específicos ou sociais, mas com a comunicação sincera e o compartilhar de uma reflexão sobre o homem e as contradições de seus sentimentos e relações, sejam esses “sentimentos” dotados das experiências que forem.

Sidmar Gomes, Jan/07