segunda-feira, 10 de março de 2008

O DIÁLOGO COM O PÚBLICO

Desde o princípio, e pelo intensificar, a cada apresentação, do compartilhar direto com o público, percebemos que o diálogo entre a poesia existente em Amor que é de Mentira ou Mentira que é de Amor? e seus espectadores acontece, e que o desencadear de experiências estéticas, de compreensão do mundo por meio dos sentidos, efetiva-se e traduze-se pelo brilho do prazer, encanto e quietude que alternaram-se nos olhos dos espectadores das mais diferentes faixas etárias que compõem as platéias de Amor que é de Mentira, ou Mentira que é de Amor?. Quietude que nos chama a atenção, pois segundo Orlandi (1997): “o silêncio é profundidade; as palavras movimento periférico”. Em um mundo em que a mudança e o caos são valores constantes e de grande peso, o silêncio torna-se zona de suspensão de um mundo que às vezes nos cansa e magoa. Para o mesmo Orlandi, o silêncio é “matéria significante distinta da linguagem”.
A constatação do embeber-se da poesia e do encontro de diferentes significados para os signos presentes em Amor que é de Mentira ou Mentira que é de Amor? aconteceu por meio do questionar curioso e indireto, por parte da equipe artística da Cia. dos Ditos Cujos, aos espectadores ao final de cada apresentação de nossa primeira temporada. A seguir transcrevemos trechos de conversas que tecemos com alguns espectadores:

Entrevistador: Relate para mim alguma parte da peça que você que assistiu e gostou.
Bruno, 10 anos: Ah... A última parte, quando eles brincam de cabra-cega.
Entrevistador: O que você acha dela?
Bruno: Ah... Não sei... Mostra que a gente tem que ser amigo uns dos outros. Ah, mais ou menos isso!
Parque da Independência, 04/02/07.
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Entrevistador: A partir do que você assistiu: Amor que é de Mentira ou Mentira que é de Amor?
Ludinéia, 31 anos: Amor que é de Amor! Tudo foi real, é assim que acontece, foi muito lindo.
Entrevistador: Fale para mim alguma parte da peça que você gostou.
Tâmara, 10 anos: A parte do amor. Aquela que a mulher ficou jogando um monte de coisas e eles ficaram adivinhando.
Entrevistador: A partir do que você assistiu: Amor que é de Mentira ou Mentira que é de Amor?
Leandro, 28 anos: Amor que é de mentira. Porque vivemos vários amores que temos tanta certeza que são verdades, mas acabam sendo tantas mentiras. E as vezes vivemos cotidianamente verdadeiras mentiras que se tornam verdades e são camufladas através do amor.
Parque do Piqueri, 01/04/07.
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Entrevistador: A partir do que você assistiu: Amor que é de Mentira ou Mentira que é de Amor?
Douglas, 45 anos: Que pergunta filosófica, heim?! Mas eu diria que o amor é de mentira, porque nós interpretamos o amor. O amor é interpretável de acordo com a pessoa e com o momento, ele não fixo, ele não é extremamente real. Ele se enquadra de pessoa em pessoa, logo ele não existe, ele é de mentira.
Nina Truck, 76 anos: Depende da hora. Tem hora que o amor é de mentira e tem momentos que a mentira é de amor.
Hugueta Sendacz, 74 anos: Muito bem, achei linda essa definição. De fato tudo depende do momento, da pessoa com quem você está próxima, das circunstâncias, e o amor é lindo, sempre lindo, mesmo quando é uma mentira!
Parque da Luz, 14/04/07.


Sidmar Gomes, diretor e dramaturgo Cia. Dos Ditos Cujos.
18 de Outubro de 2007.




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